quarta-feira, 24 de novembro de 2010

“O que vamos dizer ao Senhor?”

Para o pastor Josué Martins dos Santos, a Igreja brasileira tem pecado pela omissão na obra missionária.
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Por Marcelo Barros

Quando se trata de missões, o pastor Josué Martins dos Santos não está para brincadeira. Profundo conhecedor do assunto, ele fala com a paixão de quem se dedica à obra missionária há mais de 30 anos. “É impossível ser um pastor de ovelhas e não se importar com aqueles que vão para o inferno porque o Evangelho não lhes está disponível”, sentencia. Para ele, não há justificativa para a igreja que não se envolve com a pregação da Palavra até os confins da Terra, como ordenou Cristo. “Temos um tremendo potencial espiritual, numérico, econômico e vocacional”, argumenta. “Mas, mesmo com 40 milhões de evangélicos, não somos uma Igreja missionária porque estamos em pecado, doentes, não temos santidade.”

Paulista de Santos, 58 anos de idade, Josué é ligado à denominação Batista e preside a Missão Avante, entidade que atua junto às igrejas na questão do despertamento, preparo e envio de novos obreiros. Foi com essa disposição no coração e com a experiência de quem tem posto a mão no arado – e também com uma boa dose de sinceridade – que o pastor Josué respondeu às perguntas formuladas por CRISTIANISMO HOJE:

CRISTIANISMO HOJE – Muitos dizem que, antes de se fazer missões transculturais, é preciso evangelizar o Brasil. O que o senhor pensa sobre isso?

JOSUÉ MARTINS DOS SANTOS – É preciso deixar bem claro que, em nosso país, o Evangelho já está disponível a todos os brasileiros, com exceção de uma parte das áreas indígenas. Portanto, a prioridade missionária da Igreja brasileira não pode ser o Brasil.

Como tem sido a atuação brasileira nos campos transculturais?

Ouvi de um líder indiano a seguinte declaração: “Vocês, brasileiros, têm entusiasmo, alegria e sabem fazer amigos, mas algo está errado. Vocês não estão plantando igrejas autóctones "que sejam adaptadas a região ou cultura local", e isso é uma falha”. De fato, o trabalho missionário é este – plantar novas igrejas que sejam autóctones entre o povo que está sendo alcançado. A igreja que será plantada em outra cultura precisa ser autogovernada e auto-sustentada. Deve ter uma “cara” local e poder, sozinha, evangelizar seu próprio povo. Se não for para gerar igrejas autóctones entre o povo a ser alcançado, então não há necessidade de missionários naquela cultura.

E os brasileiros não fazem isso?

Os missionários brasileiros trabalham de forma descontextualizada. Nossa eclesiologia precisa ser repensada. Como Igreja, continuamos à procura de modelos importados, de pacotes prontos. A Igreja brasileira não sabe quem ela é e também não sabe para quê existe; somos superficiais e nossa profundidade bíblica é a de um pires. Muitos missionários brasileiros chegam ao campo e sua primeira iniciativa é procurar um salão ou local para reuniões, equipá-lo e colocar uma placa com o nome do feudo eclesiástico a que pertencem. Essa prática nada tem a ver com missões transculturais; é uma repetição do modelo americanizado e de outros sistemas que erroneamente se preocupam com o crescimento quantitativo, e não qualitativo. A pregação do Evangelho, em qualquer cultura, deve gerar uma conversão genuína e um crescimento saudável. Mas uma boa parte dos missionários brasileiros que trabalham em outras culturas não estão evangelizando nem discipulando. Isso ocorre porque os missionários são produtos da sua igreja local; eles repetem no campo o modelo onde foram gerados na fé.

Mas a falha, então, é de quem envia...

Claro. A corrida pelos resultados numéricos nos campos acontece porque a igreja que envia, ou a organização parceira, precisa apresentar resultados para justificar, digamos assim, o investimento feito. Cada um está competindo para abrir mais campos missionários que as outras denominações e organizações. O negócio é estabelecer sua placa em mais lugares. O comportamento de muitas igrejas com seus missionários é semelhante ao trabalho escravo: exige-se tudo e investe-se uma miséria. Em razão disso, há missionários abandonados, com baixos salários, doentes, desanimados, frustrados, largados nos campos. Muitos não voltam por vergonha e medo de enfrentar os “coronéis” que os enviaram mas nunca os visitaram. Isso é uma pseudovisão missionária.

Além dessa excessiva vinculação denominacional, quais são os outros equívocos?

Há um bom número de missionários brasileiros trabalhando com a nova onda do Evangelho integral. São obreiros envolvidos em projetos sociais, esportivos e educacionais, mas que não estão evangelizando e discipulando os locais. Estão curando as pessoas, ensinando práticas comunitárias, trabalhando com crianças abandonadas – porém, não estão plantando igrejas. Afinal, o que é o trabalho missionário? Ora, o Evangelho é integral em si mesmo, mas em muitos lugares os missionários cuidam de coisas e estruturas, mas não têm tempo para cuidar de vidas. Nosso chamado fundamental é para salvar pessoas e levá-las ao céu.

Os enviados são mal escolhidos?

O problema é que enviamos pessoas que eram líderes em nossas igrejas. São pastores, professores de Escola Bíblica, músicos, enfim, pessoas que exercem uma série de funções eclesiásticas, mas que nunca evangelizaram, nunca discipularam. Gente que tinha cargo na igreja, mas não tinha ministério. Sua atividade não era com pessoas, no sentido de restaurar e capacitar outros para o serviço cristão. Porém, em nossa visão equivocada de reconhecer um obreiro aprovado, enviamos gente com base no seu ativismo e na religiosidade. Nestes últimos 22 anos, tenho visitado muitos campos missionários. E encontro pessoas brincando de fazer missões, com motivações equivocadas, fazendo da obra um trampolim para alcançar seus interesses. Há missionários nos campos que nunca se submeteram a ninguém, não respeitam a liderança nacional existente e também não respeitaram os missionários que já estavam trabalhando ali antes deles. Parte dos nossos missionários comporta-se de forma ufanista, crendo que já sabem tudo, conhecem tudo e não precisam de ajuda de ninguém. Isso é soberba, é pecado.

Há problemas na formação dos obreiros?

Eu creio que sofremos da síndrome da Coréia, onde a preocupação maior era com a capacitação acadêmica. Ninguém poderia ser enviado se não recebesse um sólido preparo teórico. Hoje, no Brasil, temos centenas e centenas de acadêmicos de missões, mas não temos missionários para enviar. Aqui, temos muitos doutores em missões que nunca visitaram um campo missionário, nunca pastorearam, nunca deram um centavo à obra; no entanto, estão escrevendo e ensinando sobre missões. São os burocratas em missões. Em outro extremo, enviamos pessoas analfabetas de Bíblia, frutos de uma educação missiológica deficiente e de uma formação acadêmica mais voltada para a defesa da fé denominacional do que do Evangelho. Em razão da inexistência de um treinamento bíblico, missiológico e antropológico equilibrado e sadio, a Igreja brasileira enviou gente que cria que, pelo fato de ser batizada com o Espírito Santo e falar em outras línguas, estava capacitada. Outros iam para o campo porque eram bons soldados denominacionais, acreditando que conhecer as doutrinas e a visão de seu grupo seria suficiente para a realização da tarefa. Assim, enviamos pessoas que não tinham um caráter restaurado e por isso pecaram no campo, quebraram suas famílias, envolveram-se com coisas escusas. Em determinados locais, esses desacertos prejudicaram o trabalho missionário como um todo e a comunicação do Evangelho levou anos para ser restaurada, com conseqüências até hoje.

Estima-se que o Brasil tenha hoje algo em torno de 40 milhões de evangélicos. Por que o país não é a maior potência missionária do planeta?

Creio que existem três questões fundamentais para tal paradoxo. Primeiro, a nossa teologia não é cristocêntrica. Estudamos teologia e não percebemos que a Bíblia foi escrita em razão do projeto missionário de Deus. Isso revela que a nossa exegese do texto não está clara. Nós estamos apenas repetindo o modelo de teologia sistemática que recebemos; não fizemos nenhuma reflexão sobre o que cremos. Quando nossos irmãos e irmãs terminam seus cursos de teologia, o que receberam da parte do Senhor? No que crêem? Certamente, não crêem na Bíblia, pois com 180 mil igrejas evangélicas no país, o número de missionários não cresceu, os vocacionados para missões transculturais desapareceram, o dinheiro para missões não chega aos campos. A segunda questão é moral – não há santidade no ministério e na liderança. Pastores e líderes estão envolvidos com todo tipo de sujeira e coisas escusas. Vemos casamentos quebrados, pastores divorciados indo para o segundo, terceiro, quarto matrimônio. Pastores e líderes estão envolvidos com imoralidade e pornografia, fazem da igreja uma escada para conquistar poder e dinheiro. Como uma igreja com esse perfil de liderança vai evangelizar o mundo perdido? Missões resultam de uma vida santa e piedosa. A vocação missionária é resultado da intimidade com Deus.

E quanto à terceira questão?

A terceira está relacionada ao foco ministerial de cada pastor e igreja. Este foco está errado. Estamos construindo grandes templos, estruturas enormes, sem nos perguntarmos por que estamos investindo milhões naquilo que nosso Senhor não mandou fazer. Para algumas mentes doentias, o pastor bem-sucedido é aquele que reúne o maior número de pessoas no domingo à noite ou tem a maior igreja da cidade. Não importa o estado das ovelhas, não importa se as famílias vão bem, não importa se as atitudes são espúrias. Contanto que a igreja cresça, “Deus está abençoando”. As igrejas cheiram mal e ouvimos os ufanistas dizerem que “o Brasil é do Senhor Jesus”. Quantos somos realmente? Podemos ser 40 milhões, mas não somos uma Igreja missionária porque estamos em pecado, doentes, não temos santidade.

Qual sua expectativa acerca do 5º Congresso Brasileiro de Missões, o CBM, que acontece agora em outubro, em São Paulo?

Vamos participar do 5º CBM e nossa expectativa é ver uma ação do Espírito Santo trazendo um real e verdadeiro retorno ao compromisso com o término da tarefa proposta em Mateus 28.18 a 20. Para isso, precisamos de quebrantamento, confissão, arrependimento, perdão e restauração; se isso acontecer, então o fogo do Espírito Santo virá sobre nós. Todo movimento missionário na história da Igreja, desde Atos, foi fruto do derramar do fogo do Espírito Santo no coração de homens e mulheres que tinham fome e sede de Deus. E nós podemos fazer mais, muito mais. Temos um tremendo potencial espiritual, numérico, econômico e vocacional. Mas, se não houver um retorno à visão de Deus para os povos não-alcançados, a nossa parte em missões será dada a outras nações. Temos homens e mulheres de Deus realizando um trabalho sério e pagando um alto preço para obedecer ao Senhor em todos os continentes. A questão é se queremos pôr a tarefa de missões como prioridade em nossa vida, ministério e igreja. Se a igreja não prega o Evangelho aos que não o ouviram, ela está em pecado. Se o pastor não tem no coração uma profunda compaixão pelos perdidos, quero encorajá-lo a deixar o ministério e fazer outra coisa. É impossível ser um pastor de ovelhas e não se importar com aqueles que vão para o inferno porque o Evangelho não lhes está disponível. O que vamos dizer ao nosso Senhor no dia da prestação de contas?


Chamados para fora

A Igreja precisa passar por uma auditoria para se reencontrar e assim retomar a sua caminhada.



O doutor em teologia e escritor Robert C. Linthicum, especialista em missões urbanas, tem uma abordagem muito específica sobre o comportamento da Igreja frente à sua missão. Em seus estudos, ele descreve o que seriam igrejas urbanas eficazes e avalia quais seriam as marcas dessas experiências em diversas cidades do mundo. Neste contexto é que ele defende a tese de que comunidades cristãs eficazes na cidade compreenderam que “a igreja que quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas a igreja que perde sua vida por Cristo e por amor do Evangelho, salvá-la-á.” Fica caracterizado como força deste argumento que a igreja deve viver para o mundo, e não para si. Viver para si seria esperar que tudo e todos convergissem para os seus espaços e programas. Mas o proposto é o convite a que a igreja reconheça que seu campo de atuação não se restringe aos seus espaços nem aos seus programas. Noutros termos, igreja seria sinônimo de “chamados para fora”.

Em termos práticos, a proposta é para que todas as estruturas eclesiásticas sejam sujeitas à missão. O fatal é quando submetemos a missão às estruturas e confundimos igreja com o nosso quintal. Mas, quando temos a missão como norteadora dos nossos atos, tratamos as estruturas eclesiásticas sem tanta parcimônia. Acontece que a Igreja é uma idéia divina, mas ao mesmo tempo uma realização humana. Como idéia divina, ela tem origem e destino eternos. Deus a idealizou assim – e, como escolheu Abraão para abençoar a todas as famílias da terra, projetou a Igreja para abençoar o mundo. E o fez em termos de princípios e propósitos – nos quais ela é uma e sempre será a mesma –, e jamais como uma estrutura pronta e acabada.
 A igreja se comunica com o mundo à sua volta sempre em perspectiva cultural, embora sua essência seja divina. E as estruturas eclesiásticas serão tantas quantas forem as experiências de cada grupo e a necessidade de se alcançar cidades e sociedades. O problema é quando, por apego às suas instituições, as igrejas deixam de ser Igreja de Cristo para se transformarem em meras estruturas compactas. É por isso que as igrejas que querem viver para si acabam por perder-se, enquanto que as congregações que vivem para o mundo se salvam. Necessariamente, a vida da igreja é encontrada no cumprimento da missão de doar-se para o mundo. Ou seja, cabe à igreja seguir os passos de Jesus.

As estruturas religiosas rigidamente erguidas não puderam tolerar a presença de Jesus, que propunha o serviço àqueles para quem a porta do templo não se abria. Aí se incluíam os abandonados, as prostitutas, os gentios, os publicanos e pecadores de todo tipo. Entre ficar dentro dos templos, protegido pelos guardiões do sagrado, e sair para servir à humanidade, o que o Filho de Deus preferiu? Daí, sua afirmação categórica: “Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, esse a salvará.”

É impressionante o número de pastores que hoje vivem para carregar as estruturas eclesiásticas, sem tempo e sem forças para pastorear as pessoas – da mesma forma que a quantidade de crentes que afluem dominicalmente para os templos por um simples sentido de dever ou por um hábito enraizado. É também impressionante como empresários conseguem reduzir as igrejas evangélicas a um nicho de mercado, transformando até as lágrimas e os suspiros do povo em produtos. E o que dizer da arrogância das chamadas confissões históricas, que justificam o seu distanciamento do mundo real com a desculpa pálida de que não são deste mundo, preferindo um amálgama da cultura eclesiástica à fluidez da cultura popular brasileira?

Seria ótimo se o ato de ir à igreja representasse a promoção de encontros em que a vida real não fosse deixada do lado de fora daquelas quatro paredes. Então, as pessoas que para lá acorressem iriam em busca de um lugar de vida, de encontros humanos; um lugar de pulsação e criação, em que o derramamento do Espírito Santo permite que cada um ouça o Evangelho em sua própria língua e saia a anunciar o Reino de Deus ao mundo. A Igreja Evangélica em solo brasileiro precisa passar por uma auditoria para se reencontrar e assim retomar a sua caminhada. Caso contrário, será apenas uma pretensa guardiã dos mistérios divinos, como um antiquário espiritual, enquanto Cristo estará do lado de fora, à sua porta, batendo. Não, a igreja não é guardiã do sagrado; ela é a comunidade da partilha.


Valdemar Figueredo

terça-feira, 28 de setembro de 2010

40 Mártires, 40 coroas

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Da história da Igreja dos primeiros séculos existe um relato que veio impressionar os cristãos ao longo dos tempos. Um grupo de soldados crentes, numa das legiões do Império Romano, foi condenado à morte por sua conversão ao Cristianismo, ora poderosamente difundido e perseguido. Esses soldados foram colocados no meio de um lago congelado, para que morressem. Antes lhes deram a palavra do imperador de que se abandonassem a fé e se arrependessem de terem sido convertidos, poderiam ser libertos, passando antes pelo oficial em serviço.

Naquela noite, porém, o guarda teve uma visão. Ele via anjos pairando sobre os condenados, que iam coroando os que morriam e eram de imediato levados ao Céu. Ele escutou um cântico, como de um grande coral, nos céus, cuja letra dizia: “Quarenta mártires, quarenta coroas”. Num dado momento o guarda notou que um dos cristãos aproximava-se, e logo viu que ele iria demonstrar o seu arrependimento. Chegou-se e renunciou a sua fé diante do oficial, pois estava vendo seus companheiros caírem mortos um por um. O guarda anotou seus dados pessoais. Fixou seu olhar no rosto disforme e infeliz e disse pausadamente: “Louco, se tu tivesses visto o que eu vi nesta noite, tu terias morrido e ganhado tua coroa! Como renunciaste, mostrando-te arrependido, ela ficou e está lá suspensa e será minha! Toma o meu lugar aqui e minhas armas e eu tomarei a tua coroa”.
Aquele guarda romano, desfazendo-se de sua armadura, rumou para junto dos mártires onde acabou morrendo por ter tido um encontro com o Senhor Jesus. Da sua legião terrestre embrenhou-se na legião dos combatentes celestiais e galgou a glória da vida eterna.


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Os 40 Santos Mártires de Sebástia - Armênia (+c.320) 
No ano de 313 São Constantino, o Grande promulgou um édito libertando os cristãos das perseguições de fé e equiparou-os aos pagãos diante da lei. Mas seu co-regente Licinius favorecia aos pagãos e na sua parte do império decidiu erradicar o cristianismo, que era, lá, consideravelmente difundido. Licinius preparou suas tropas para lutar contra Constantino, que temendo uma rebelião, decidiu liberar os cristãos do seu exército.

Na época, um dos comandantes militares da cidade armênia de Sebástia era Agricolaus, um adepto zeloso do paganismo. Sob seu comando estava a companhia do forte da Capadócia – Bravos Soldados – que lhe renderam vitórias em numerosas batalhas. Todos eram cristãos. Quando estes soldados recusaram oferecer sacrifícios aos deuses pagãos, Agricolaus prendeu-os. Os soldados mergulharam em profunda oração e num determinado momento à noite ouviram uma voz: 
“Perseverem até o fim então vós sereis salvos”.
Na manhã seguinte os soldados foram levados a Agricolaus. Neste momento o pagão tentou lisonjeá-los. Ele começou a enaltecer seus valores, sua juventude e força; mas, exigiu-lhes a renúncia à Cristo, e por recompensa ganhar o respeito e as benesses do Imperador. Após ouvir novamente as recusas, Agricolaus deu ordens para algemar os soldados. O mais velho deles, Kyrion, disse: ”O imperador não lhe deu o direito de nos algemar”. Agricolaus ficou embaraçado e ordenou que os soldados voltassem à prisão sem algemas.

Sete dias depois, o renomado juiz Licius chegou em Sebastia e julgou os soldados. Os santos responderam firmemente:
 “Podem tirar as nossas insígnias e também nossas vidas, pois nada é mais precioso para nós do que Cristo Deus”. Em vista disto, Licius ordenou que os mártires fossem apedrejados. Mas as pedras voavam por eles inteiramente; e a pedra atirada por Licius golpeou Agricolaus na face. Os torturadores imaginaram que os santos eram guardados por alguma força invisível. Na prisão, os mártires passaram a noite a rezar e novamente ouviram a voz do Senhor, confortando-os: “Aquele que acreditar em Mim não morrerá, mas viverá. Sejam bravos, não tenham medo e obtereis uma coroa incorruptível”.

No dia seguinte o juiz novamente os interrogou na frente do torturador, mas os soldados permaneceram inflexíveis.

Era inverno, e havia um espessa neve. Eles alinharam os soldados e os colocaram num lago gelado não muito longe da cidade, sob guarda durante toda a noite. A fim de persuadir os mártires a mudar de vontade, uma aquecida casa de banhos foi instalada perto da margem. Durante a primeira hora da noite, quando o frio estava insuportável, um dos soldados não agüentou e teve um ímpeto de ir à casa de banho, mas mal tropeçara na soleira da porta, caiu morto. Na terceira hora da noite, o Senhor enviou consolações aos mártires: repentinamente apareceram luzes, o gêlo derreteu e a água do lago tornou-se quente. Todos os guardas dormiam, exceto um que fazia a vigília, de nome Aglaios. Ele viu no lago, uma radiante coroa sobre a cabeça de cada mártir. Aglaios contou trinta e nove coroas e imaginou que o soldado que fugira, tinha perdido a sua coroa. Em seguida, Aglaios acordou os outros guardas, tirou seu uniforme e lhes disse: “Eu também sou cristão” e se uniu aos mártires. De pé no lago ele rezava: “Senhor Deus, eu creio em Ti, em Quem estes soldados acreditam. Me junte a eles também e considere-me digno de sofrer com Teus servos”.

Pela manhã os torturadores viram com surpresa que os mártires ainda estavam vivos, e que seu guarda Aglaios glorificava Cristo com eles. Então tiraram os soldados da água e lhes quebraram as pernas. Durante esta terrível execução, a mãe do mais novo dos soldados, Meliton, pediu que seu filho não sofresse durante a execução. Eles colocaram os corpos dos mártires num carro para queimá-los. O pequeno Meliton ainda respirava e o deixaram na grama. Sua mãe então levantou seu filho e carregou-o sobre seus próprios ombros, atrás do carro. Quando Meliton ofegante deu seu último suspiro, sua mãe o colocou no carro ao lado dos corpos de companheiros de sofrimentos. Os corpos dos santos foram queimados e os ossos carbonizados foram atirados na água, para que os cristãos não os recolhessem.

Três dias depois os mártires apareceram em sonho ao abençoado Pedro, Bispo de Sebástia, e mandou-o pegar suas relíquias no local do “enterro”. O bispo acompanhado de vários clérigos recolheu as relíquias dos gloriosos mártires à noite e sepultou-as com honra.


O evangelismo simples de Jesus



Patrick Dugan


Cinco anos atrás me mudei para um novo bairro. Logo que cheguei à Rua Lajeado, pensei em evangelizar nossos novos vizinhos. Claro, sendo eu um missionário veterano, saberia muito bem o que fazer... (Que nada!) Como “religioso profissional”, já atravessara o Brasil e até outros países para evangelizar. No entanto, para minha vergonha, nunca havia ganhado nem um vizinho para Cristo. Lia os livros sobre evangelismo e mergulhava nos textos sobre crescimento da igreja. Porém, no meio de tanta complicação, desenvolvi algumas atitudes, certos hábitos e “síndromes”, que me afastaram do evangelismo simples de Jesus.

Minha falta de sucesso em evangelizar os vizinhos tem me levado a refletir sobre a forma tão humana e simples com que Jesus se relacionava com as pessoas no seu trabalho missionário. É claro que, dependendo da situação, Jesus agia com rigor.

No dia-a-dia com os vizinhos, precisamos aprender da simplicidade de Jesus. Um texto que tem me impressionado muito é o de João 1.35-50, no qual encontramos as primeiras atividades evangelísticas de Jesus. Certamente é uma passagem que devemos estudar com cuidado. Nela, notaremos quatro características do evangelismo simples de Jesus que podem nos livrar de algumas “síndromes” complicadas e nos encorajar a imitá-lo. Tenho procurado seguir o modelo, e, para minha alegria, na Rua Lajeado, já está começando a funcionar!

O diálogo

As primeiras palavras evangelísticas de Cristo, registradas na Bíblia, foram: “O que vocês querem?” Oh, foi uma pergunta!

João Batista estava na companhia de dois discípulos quando viu Jesus passar. Na hora ele disse: “Eis o Cordeiro de Deus!” Os dois discípulos, ouvindo isso, seguiram Jesus. E este, que não somente sabia toda a verdade, mas é a Verdade, voltando-se para eles, lhes fez uma pergunta, um convite para o diálogo.

Eu, e talvez você também, fomos orientados a pensar em evangelismo como um monólogo. Eu tenho a verdade, o meu vizinho não a tem. Eu falo e ele escuta. Certo? Um bom evangelista é aquele que fala bem. Não faz muitas perguntas. É especialista em respostas. Só que, muitas vezes, isso não funciona. Especialmente quando se trata dos nossos vizinhos.

A postura de conhecedor, de superior, é impessoal e ofensiva às pessoas. Um dos moradores do nosso bairro desabafou um dia:

“Não entendo esse pessoal. O cara chega ao meu portão e dispara a falar que nem metralhadora. Não sei se ele tem um número de pessoas para evangelizar por dia, ou se ganha dinheiro com isso, ou sei lá o quê...”

Eu não tive como lhe responder.

Quando adotamos o método de evangelismo ao estilo “monólogo”, descobrimos que as pessoas não nos escutam. Nem fizemos a metade da nossa apresentação e aparecem os bocejos e os sinais de aborrecimento e de cansaço. Então passamos a falar mais alto ou mais enfaticamente.

Jesus começou sua carreira missionária com uma pergunta. Quem sabe, se seguirmos esse exemplo simples dele e começarmos a fazer perguntas e a ouvir respostas, quebraremos a “síndrome do monólogo” e ganharemos o direito de sermos ouvidos?

O processo

No texto citado, Jesus tem encontros rápidos e transformadores com vários jovens. Entretanto nem tudo foi tão instantâneo... Eram instantes em um processo. Esse processo começara havia mais de vinte anos na formação religiosa daqueles jovens judeus, culminando anos depois em maturidade e em um honrado apostolado. Mesmo na ocasião em que deram os primeiros passos, levaram ainda alguns meses até se decidirem por seguir a Jesus definitivamente (Mt 4). O encontro com ele era um momento crucial, com certeza, mas fazia parte de um processo.

Aqui encontramos outra “síndrome” que nos afasta da simplicidade de Jesus e nos causa muita ansiedade. Achamos que é nosso dever levar as pessoas a uma decisão imediata. Temos a idéia de que, se encontrarmos a palavra certa, se tivermos uma unção mais poderosa ou uma técnica mais apurada, a pessoa irá se render aos pés de Jesus imediatamente.

Na Rua Lajeado, minha tarefa não é ganhar todo mundo “de uma tacada só”. Preciso de sabedoria para discernir em que posição as pessoas se encontram nesse processo, e ajudá-las a dar o passo seguinte. Nem sempre aquela é a hora de ganhar a pessoa. Alguns vizinhos têm necessidades físicas que precisam ser atendidas primeiro, e outros carecem de bons modelos para se sentirem motivados. Em determinados casos, será necessário derrubar as barreiras intelectuais. Tenho vizinhos que precisam de libertação espiritual, porque tiveram envolvimento com o espiritismo. Muitos necessitam de oração. É bom dar-lhes um pouco de tempo. Assim o coração deles pode amolecer a ponto de reconhecerem sua necessidade de Deus. Chegará a hora da persuasão, do confronto e da decisão, mas nem sempre o dia é hoje.

Sem pressão, sem necessidade de mostrar serviço, preciso fazer minha parte... e você, na sua rua, fazer a sua. Como Jesus, com muita simplicidade, precisamos discernir em que etapa a pessoa se encontra em seu “processo”, e ajudá-la a seguir adiante. Devemos procurar ser amigos, dar bom exemplo, emprestar um livro, explicar a Bíblia, oferecer oração, ou convidar para ir à igreja. Acompanharemos a cadência do trabalho do Espírito na vida do vizinho.

O tratamento individual

Nos versículos 29 a 51, podemos observar as diversas formas que Jesus usou para chamar aqueles homens para segui-lo.

Vejamos como o chamado é diferente para cada pessoa:

– João Batista recebe uma revelação vinda diretamente de Deus (vv. 29-34).

– André e o outro discípulo passaram o dia com Jesus (v. 39).

– Simão Pedro, levado pelo irmão, encontra-se com Jesus e este muda-lhe o nome (vv. 40-42).

– Jesus encontra Filipe e lhe dá uma ordem: “Segue-me” (v. 43).

– Natanael, depois de ouvir Filipe, aproxima-se de Jesus cheio de dúvidas e se rende diante do conhecimento sobrenatural dele (vv. 45-51).

Precisamos deixar Jesus trabalhar de forma singular na vida das pessoas. Às vezes tentamos ser mais organizados do que Deus! Levanta-se a “síndrome da metodologia”. Somos fascinados por categorias, métodos e fórmulas. (Quatro temperamentos, sete tipos de inteligência, quatro leis espirituais...) Mas o fascínio de Deus é para cada pessoa, individualmente. O importante não é onde elas fizeram o compromisso ou o que elas disseram, mas o resultado final, se o indivíduo se arrependeu dos pecados, exerceu fé em Jesus e se relaciona com ele.

É como nas histórias de amor e casamento. Cada uma é diferente. Um amigo meu viu aquela que seria sua esposa no outro lado de uma sala e disse consigo mesmo: “É ela”, e pronto. Outros cresceram juntos na mesma rua, e a amizade tomou um rumo diferente. Alguns fizeram da cerimônia um espetáculo suntuoso. Já outros se casaram na sala da sua humilde casa. Mas o importante é que todos vivam um relacionamento de amor.

No reino de Deus é assim também. Alguns não sabem a hora em que fizeram a decisão, foram batizados da forma “errada”, não tiveram um discipulado formal, ainda não conseguiram deixar de fumar, e são discípulos de Cristo. Por outro lado, há pessoas que sabem o dia da conversão, dominam o vocabulário evangélico, foram batizados por imersão e falam em línguas estranhas, mas não demonstram as marcas de um discípulo de Jesus.

As pessoas da Rua Lajeado não entrarão no reino de maneira idêntica. Daqueles que já se decidiram,cada uma vem por um caminho próprio. O primeiro homem a se converter, angustiado por uma separação conjugal, leu um livro sobre perdão e depois se decidiu em um culto público. Outra vizinha, após receber oração por uma enfermidade, orou sozinha e falou que “nasceu de novo”. O marido dela vem acompanhado-a, devagar e sempre. Mãe e filha oraram em minha casa junto com minha esposa. Cada uma foi a Jesus de forma diferente,mas vivem hoje um relacionamento com ele.

Os Relacionamentos

É interessante notar no texto de João o importante papel dos relacionamentos nas primeiras conversões a Jesus.

Vejamos a seqüência:

- João Batista era primo de Jesus.

- João indica Jesus a seus discípulos, e um destes era André.

- André apresenta Pedro.

- Filipe, da mesma cidade e provavelmente um conhecido da turma, leva Natanael.

Parece que complicamos muito essa forma simples de Jesus que aproveitava os contos naturais. Esquecemo-nos de que até hoje a maioria das pessoas vem para Jesus por meio de relacionamentos, talvez até em 80% dos casos, segundo alguns pesquisadores.

Nos dias de hoje, somos acometidos pela “síndrome da mídia”. Estamos cada vez mais envolvidos com tecnologia. É rádio, televisão, telemensagens, publicações, placas luminosas e agora a Internet. E enquanto estamos comprometidos com projetos mirabolantes, não cultivamos relacionamentos – com parentes, amigos, colegas de trabalho e vizinhos – que oferecem maior potencial para a evangelização.

Com certeza Jesus ganhou pessoas nos encontros casuais que teve através das pregações que fez às multidões, e não duvido de que aproveitaria a mídia atualmente. Porém, nesse primeiro episódio missionário dele, como na maioria dos casos hoje,o evangelho se alastra por meio de relacionamentos. Olhemos para nossa experiência. Qual foi a influência principal no processo de aceitarmos a Cristo? Uma família? Um colega da escola ou do trabalho? Um vizinho? Façamos uma pesquisa entre os membros da nossa igreja. Ficaremos surpresos. Na sua grande maioria, as pessoas foram alcançadas por meio de relacionamentos.

Isso quer dizer o quê, para mim, que moro na Rua Lajeado? Que preciso aprender a me relacionar melhor com os não-cristãos da minha rua. Meu maior desafio não é aperfeiçoar minha técnica evangelística, mas me relacionar com naturalidade e amor. Meus vizinhos não são “escalpos” ou troféus para provar minha espiritualidade. São pessoas de inestimável valor, portadoras da imagem de Deus. Eu também sou humano. Preciso me relacionar com eles não como pastor, nem guru, mas como um homem frágil que foi transformado por Jesus. Aqui no Sul isso significa tomar chimarrão e jogar conversa fora (bater um bom papo) Requer tempo para conversas na frente de casa sobre serviço, política e cortadores de grama. Para as mulheres, uma xícara de açúcar emprestada e o chá para curar uma gripe é o caminho. É mostrar interesse pela pessoa como pessoa, não como “alma”. Usando a ponte de relacionamento, mais pessoas virão a Jesus.

O evangelismo simples de Jesus me ajuda a ver com mais clareza o que Deus quer de mim, ali na Rua Lajeado.

Por envolver diálogo, preciso me preocupar em fazer perguntas e esperar as respostas;

Por ser um processo, não preciso me apavorar em chegar ao alvo imediatamente;

Por ser individual, minha preocupação não deve ser com os detalhes de um método perfeito, mas deve ser levar as pessoas a um relacionamento com Deus;

Por ser relacional, minha tarefa é construir pontes de amizade.

Só agora, no final destes primeiros cinco anos em que moro na Rua Lajeado, é que estamos vendo alguns resultados. Cada terça-feira nos reunimos em uma casa diferente para um estudo bíblico, e assim vamos revezando. Somos aproximadamente vinte pessoas. Algumas já se posicionaram e estão se integrando à igreja local. Outras ainda se encontram com um pé atrás. Entretanto estou mais tranqüilo, porque sei que Deus quer de mim um evangelismo simples... como o de Jesus.

(in Revista Mensagem da Cruz - Patrick Dugan reside em São Leopoldo, RS. É missionário norte-americano e um dos diretores da Editora Betânia. E-mail: patrick.bernard@terra.com.br)
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Mas o que e evangelizar mesmo?



Este artigo foi escrito por Atilano Muradas. Ele é jornalista, teólogo, compositor, escritor, músico e pastor. Possui sete CDs gravados, três livros publicados, e reside nos Estados Unidos. Para falar com o autor, escreva para: atilanomuradas@uol.com.br

Muito se tem dito a respeito de “evangelizar”. Esta primeira frase, inclusive, pode ser que já tenha sido escrita, diversas vezes, por gente que decidiu, assim como eu, agora, finalmente, resolver a questão do evangelismo na Igreja de uma vez por todas. O mundo será outro depois deste texto. No entanto, já encerro aqui a minha ilusão de que conseguirei isso. Não depende apenas do meu desejo, da minha habilidade em argumentar, ou de Deus. É, isso mesmo, não depende de Deus.
Apesar de tudo nesta vida ser “se Deus quiser”, a missão de evangelizar ele deixou para nós. Ele vai salvar a quem a gente pregar – seja direta ou indiretamente – loucos, natimortos, criancinhas, abortados, etc., só no Céu saberemos o que será deles. Ninguém aceitou a Jesus do nada. Alguma coisa ele ouviu, algo sentiu a partir de informação externa que lhe chegou aos ouvidos e desceu ao coração. Sei de pessoas que aceitaram a Jesus de todo jeito, até mesmo através do Diabo. Ele mesmo pregou, acredite.
Um sujeito estava fazendo um despacho grandioso com uma determinada finalidade maldosa quando o Diabo, em pessoa, lhe apareceu e disse que de nada adiantaria aquele trabalho todo, pois a pessoa a quem se destinava o “trabalho” era crente. “Ela é filha do cara lá de cima. Com ele eu não mexo, pois é mais poderoso”, disse o Pai das Trevas. Ao ouvir tal declaração do patrão chifrudo, o sujeito respondeu: “Se o outro é mais poderoso, então, não te sirvo mais”. Abandonou a vida de despachos e foi servir a Deus numa igreja cristã.
Outro amigo era do tipo que denominamos “doidão”. “Cheirava todas” e vivia em petição de miséria, como diziam os antigos. Certo dia, fumando sua tradicional maconha junto com um amigo, resolveu ler um livro diferente: a Bíblia. Entre baforadas, blasfêmias e risadas, ele parou num texto que lhe informou claramente que, se ele continuasse naquela vida de drogas, certamente, iria para o Inferno. Sem pestanejar, largou tudo e entrou na primeira igreja evangélica que viu aberta e aceitou Jesus.
Histórias assim são produto de oração, de investimento de muitas pessoas, tenha certeza. Aliás, a maioria das conversões veio de exaustivos trabalhos de pregação corpo a corpo. Deus e seus anjos não descem à Terra para pregar o Evangelho. A missão é nossa. Contudo, parece-me que a evangelização está um pouco esquecida, coitada, no final da fila das prioridades eclesiásticas. Analise comigo.
Os cânticos de sucesso apelam para o emocional, estão centrados no homem e no seu bem-estar. Enquanto isso, as pregações, cujas canções refletem, visam entusiasmar, motivar a conquistar bens terrenos a todo custo. O apelo à salvação é dado ao final dessas pregações, criando um paradoxo sem precedentes na história dos sermões cristãos. Prega-se uma coisa e se faz apelo para outra. Ouça: “Deus vai resolver todos os seus problemas, dar-lhe tudo o que precisa, e fazer você milionário nesta Terra. Quem quer aceitar Jesus?” Ora, quem não irá aceitar?! Tudo bem, ainda bem que aceitou Jesus, mas a propaganda foi enganosa, e o novo convertido poderá se frustrar quando descobrir que não é bem assim como lhe prometeram.
A vida com Deus é vida feliz, mas, temos que suportar outros lances que estão sendo omitidos aos novos convertidos. Vida com Deus também é perder pra ganhar; é morrer pra viver; é dividir o pouco que tem; é servir e não ser servido; é passar por lutas e agradecer; é estar preso e cantar; é levar um tapa e dar a outra face; é aguentar uma série de desaforos dentro e fora da Igreja; é suportar os crentes (cristão é outra coisa); e mais uma série de outras aventuras aparentemente ruins, mas que enriquecem o homem de sabedoria e o fazem entender o verdadeiro sentido de ser cristão – se você ainda não entendeu isso, peça ao Espírito Santo pra lhe fazer entender. Aí você vai ser feliz mesmo tendo que viver essas tribulações. São alguns dos mistérios da vida cristã.
Essa forma de expor o Evangelho parece o daquelas propagandas com uma porção de letrinhas miúdas no pé da página, quase ilegíveis de tão pequenas. A gente só fica sabendo de tudo mesmo, depois que assina o contrato, e vê onde entrou.
Tanto se fala, hoje em dia, em respeitar os direitos. Pois é, os cristãos deveriam respeitar os direitos dos incrédulos e pregar-lhes o verdadeiro Evangelho para trazê-los para a Igreja. Aliás, eu acho até que viria mais gente que sinceramente aceitou a Jesus porque o ama de verdade, e não aos presentes que oferece. Os incrédulos não são todos idiotas e vão caindo na conversa de qualquer um não. Alguns caem, hoje, mas, daqui uns dias, pulam fora. Falsos pregadores podem enganar por um tempo, mas não por todo o tempo. E fazer com que esses desviados compreendam o verdadeiro Evangelho é quase um outro milagre.
Mas, porque será que isso acontece? A resposta, talvez, venha ao se tentar responder “Mas, o que é evangelizar mesmo?” Quando entendemos que nascemos com uma missão que vem “antes” de qualquer missão que tenhamos que exercer na Terra, então começamos a entender melhor a vontade de Deus. Em Marcos 16:15-18 Jesus deixa isso claro: “Ide e pregai”; e o resto vem depois. Em Atos 1:8 ele diz que receberíamos o poder para sermos “testemunhas”, ou seja, que pregam o Evangelho; depois vêm as atividades desde onde se está até os confins da Terra (missões).
Evangelizar é um dom que nasce com todas as pessoas. Pode e deve ser exercido, desde a mais tenra idade. Evangelizar é falar daquilo que se crê, sem a necessidade de fórmulas mágicas de multiplicação ou de estratégias de marketing mirabolantes. Isso tudo pode ser usado, mas se as pessoas estão desfocadas, é dinheiro jogado no lixo.
Evangelizar é uma decisão que alguém toma antes de querer ser pastor, apóstolo, profeta, doutor, ou até mesmo evangelista. Isso mesmo, evangelista, pois tem gente que quer assumir seu dom de evangelista depois que fizer o bacharel em Teologia, o mestrado em divindade, o doutorado em anjos, e conseguir os recursos para se sustentar no campo missionário. Você conhece alguém que se preparou a vida inteira para tocar piano sem nunca ter tocado um piano? Claro que não. Quem toca bem começou cedo e nunca parou.
Quem não treina evangelismo nunca será evangelista. Quem não conhece a Bíblia nunca será evangelista. Quem não ora, não evangeliza. Quem não insiste com as pessoas, corre atrás, suporta umas pedradas, não alcançará sucesso no evangelismo. É igual no trabalho: um leão por dia – inclusive, o que ruge como um leão ao redor tentando nos tragar. Ser cristão da teologia da prosperidade é mole. Quero ver é ser cristão da teologia da verdade.

Fonte: www.evangelizabrasil.com